Com a Empresa Tatuada na Pele

Você tatuaria o logo da empresa em que trabalha na sua pele? E a meta?
Parece impensável pra você? Pois não é!!
Conheça aqui dois casos reais que vão ampliar sua visão sobre a relação empregador x empregado, para reflexão e aprendizado.
Caso 1
Em setembro de 2020, uma empresa de franquias de serviços estéticos fez uma festa para celebrar o marco de 100 franquias. Durante a festa, puderam compartilhar o sonho do objetivo coletivo de chegar a 300 franquias em operação.
Como forma de comemoração, a empresa ofereceu uma tatuagem para seus funcionários – escolha individual, cada um poderia fazer o que quisesse.
Até aqui, seria apenas uma história de um presente organizacional "diferentão".
O caso muda de figura, quando o CEO da empresa decide fazer uma tatuagem como referência à meta-sonho de alcançar 300 franquias – #300 - e outros 6 funcionários decidem também fazer uma tatuagem com essa referência.
Orgulhoso, o dono da rede posta fotos das tatuagens, enobrecendo o time f*da (em suas palavras).

Ataque. Tribunal da internet. Condenação. Repercussão negativa. Defesa. Ninguém foi obrigado. A história não é assim. Eles que quiseram. Blá. Blá. Blá.
CORTA.
Caso 2
Em 2013, a Rapid Realty – consultoria de imóveis em Nova Iorque – ofereceu aos funcionários que tatuassem o logo da empresa um aumento de 15% e comissões mais gordas.
A ideia surgiu quando um trabalhador, de maneira voluntária, fez a tatuagem do logo e mostrou ao dono da empresa, que, animado, criou esse programa de incentivo.

CORTA.
A REFLEXÃO
Como você se sentiria se fosse funcionário de uma dessas empresas?
Qual a diferença entre os dois casos?
Embora o segundo caso tenha o componente explícito de um benefício de contrapartida financeira, ele não difere muito do primeiro caso.
A explicação para isso é que, ainda que não haja uma recompensa imediata em troca da realização da tatuagem, quando alguém faz uma tattoo que combina com a do dono da firma e que terá uma leitura que representa seu compromisso e vínculo organizacional, isso resulta na criação de um elo. Uma conexão além da conexão que outro funcionário sem tatuagem teria.
A tatuagem torna-se um símbolo explícito de comprometimento e engajamento. Substituirá a performance? Não. Influenciará a análise? Sim.
Por exemplo, imaginemos que em uma avaliação para decidir sobre uma promoção, o CEO se depare com dois trabalhadores com performances parecidas, mas um deles tem tatuado o logo da empresa, o compromisso marcado na pele, a dor compartilhada da agulha, o amor incondicional pela firma, o anel dos supergêmeos. Qual dos funcionários levaria o aumento?
Brincadeiras à parte, um(a) CEO maduro(a) deveria saber que um elemento intangível entrou em jogo. E que, possivelmente, um viés foi estabelecido. Não reconhecer isso faz desse(a) líder uma pessoa ingênua – no mínimo – e despreparada – de fato.
Por isso, o discurso “Cada funcionário decide se faz a tatuagem ou não; nós não obrigamos ninguém a nada.” é apenas uma tentativa de se esquivar da responsabilidade – um comportamento reprovável para qualquer liderança.
A PRESSÃO PSICOLÓGICA OCULTA
Em nenhum dos casos (pelo que pude apurar) houve coerção explícita para a realização das tatuagens. No entanto, ao fugir da corresponsabilidade, a liderança expõe seu despreparo e falta de conhecimento sobre o funcionamento das relações humanas em grupo.
Dizer que não houve pressão formal para fazer a tatuagem é um discurso que busca ofuscar os outros tipos de pressão presentes nos episódios:
- pressão por dinheiro (benefício imediato do dinheiro x custo permanente de manter a tattoo)
- pressão por aceitação (o símbolo como forma de estreitar o vínculo com o chefe)
- pressão por conformidade social (ser parte do grupo e não parecer um estranho no ninho)
O psicólogo Solomon Asch foi pioneiro em estudos de conformidade social e seus experimentos trouxeram com bastante clareza o impacto da pressão social sobre os indivíduos, levando-os por exemplo, a dar respostas erradas propositalmente apenas para manter a conformidade com o grupo.
O vídeo abaixo mostra um resumo dos experimentos e dos resultados – são só 3 minutos e é super interessante!
CORRESPONSABILIDADE
“Ah... então agora tenho que tratar as pessoas como crianças?” – Não!
Cada vez mais precisamos muito (muito mesmo) fazer compromissos maduros e com menos supervisão, incentivando a autonomia das nossas equipes e tratando-as como adultos. (Isso pode incluir, por exemplo, diminuir a estrutura de buffet infantil que a empresa tem... xiiiii)
Mas, acima de tudo, é necessário maturidade conjunta para enxergar e conversar sobre as práticas e ferramentas de gestão que trazem viés de análise embutidos e que, normalmente são ignorados pela liderança. Quer ver outro exemplo?
Chefe manda mensagens por Whatsapp ou e-mail às 23h. Funcionário A, solteiro, morando sozinho, responde imediatamente. Funcionário B, casado, ativamente envolvido nas atividades da casa e família, está colocando o filho com febre para dormir. Vê a mensagem no celular mas não responde.
No dia seguinte, funcionário B diz – “desculpe, chefe. Não consegui responder sua mensagem ontem às 23h.” e o chefe retruca “Não tem nenhum problema, quando eu envio a mensagem tarde, não espero que você responda, mas sei que o funcionário A pode responder.”
Taí... não tem pressão imposta. Tudo bem.... Só que não!!
Funcionário B estará se sentindo em dívida e em um momento de análise de performance entre A e B, será impossível neutralizar o viés de disponibilidade.
CONCLUSÃO
Portanto, LÍDERES, por favor, soltem a tinta e parem de marcar os(as) trabalhadores(as). A marca não é na pele, é na estrutura psicológica. E dura bem mais que tatuagem....
E VOCÊ? FARIA UMA TATUAGEM EM HOMENAGEM AO SEU EMPREGADOR?
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